O Padre e o Caipira
Mauro Pereira
( Adaptação poética, de Causo contado por meu pai )
Pelo sertão das Gerais
segue o padre em montaria
pras rezas da romaria,
quando avista e diz: "Amém"!
Uma enorme latada
de erva de passarinho,
em árvore parasitada,
bem na beira da caminho.
Instiga então seu cavalo
e agradece com louvor
a sombra que irá guardá-lo
daquele infernal calor.
Vê que a sombra já abriga
duas crianças locais.
Um guri, u'a rapariga
de uns dez anos, não mais.
"Bom dia!" Saudou festivo,
agradecendo aos céus!
E remoendo sua sina,
tirou de pronto o chapeu
e um lenço da batina.
Deu uma olhada ao redor!
Viu uma cabaça enterrada.
E enxugando o suor
Já não pensou em mais nada:
"Em u'a sombra daquela
Com certeza era agua fresca"!
E já se candidatou
a tirar o pó da goela.
Apontando pra cabaça
perguntou se ele PODIA,
ao que o rapaz assentiu:
"É a nossa serventia"!
O padre pegou a cuia
de coité e se assentou.
Virou de ponta a cabaça,
Mas nem u'a gota pingou.
O padre fez um lamento,
(não muito santo, eu diria!)
"Não se oferece a um sedento
uma cabaça vazia.!"
Ao que o rapaz explicou:
"Voismecê num priguntô,
se tinh'água meu sinhô!
Só priguntô se pudia!"
Enquanto enxugava a testa
Puxando prosa, indagou:
"Vocês são filhos de quem?"
E o guri em "mineirês":
"Nois é fio do nosso pai!"
"E onde é que vocês moram?"
" Nois mora na nossa casa!"
O padre coçou a barba,...
suspirou fundo e arriscou:
Essa estrada vai pra onde?
_"Num vai pra canto ninhum.
Deusde qui nois a cunhece,
nunca se arredô daqui!"
O padre, contendo a ira
por ser feito de otário,
Pergunta pros dois caipiras,
Já com a mão no rosário.
"Por acaso vós não tendes
__A menos que sejam sós__,
Alguém com quem se entende?
Um irmão mais bobo que vós?!"
"Temo sim sinhô vigário!"
"Mais pa agradá nossa madre,"
"largô o trabaio diário "
"e foi istudá pa padre!"
Pode ser que consta em alguma Antologia.
Quem souber, por favor, avise-me para atribuir os créditos. visite: mauper.prosaeverso.net
Mauro Pereira
( Adaptação poética, de Causo contado por meu pai )
Pelo sertão das Gerais
segue o padre em montaria
pras rezas da romaria,
quando avista e diz: "Amém"!
Uma enorme latada
de erva de passarinho,
em árvore parasitada,
bem na beira da caminho.
Instiga então seu cavalo
e agradece com louvor
a sombra que irá guardá-lo
daquele infernal calor.
Vê que a sombra já abriga
duas crianças locais.
Um guri, u'a rapariga
de uns dez anos, não mais.
"Bom dia!" Saudou festivo,
agradecendo aos céus!
E remoendo sua sina,
tirou de pronto o chapeu
e um lenço da batina.
Deu uma olhada ao redor!
Viu uma cabaça enterrada.
E enxugando o suor
Já não pensou em mais nada:
"Em u'a sombra daquela
Com certeza era agua fresca"!
E já se candidatou
a tirar o pó da goela.
Apontando pra cabaça
perguntou se ele PODIA,
ao que o rapaz assentiu:
"É a nossa serventia"!
O padre pegou a cuia
de coité e se assentou.
Virou de ponta a cabaça,
Mas nem u'a gota pingou.
O padre fez um lamento,
(não muito santo, eu diria!)
"Não se oferece a um sedento
uma cabaça vazia.!"
Ao que o rapaz explicou:
"Voismecê num priguntô,
se tinh'água meu sinhô!
Só priguntô se pudia!"
Enquanto enxugava a testa
Puxando prosa, indagou:
"Vocês são filhos de quem?"
E o guri em "mineirês":
"Nois é fio do nosso pai!"
"E onde é que vocês moram?"
" Nois mora na nossa casa!"
O padre coçou a barba,...
suspirou fundo e arriscou:
Essa estrada vai pra onde?
_"Num vai pra canto ninhum.
Deusde qui nois a cunhece,
nunca se arredô daqui!"
O padre, contendo a ira
por ser feito de otário,
Pergunta pros dois caipiras,
Já com a mão no rosário.
"Por acaso vós não tendes
__A menos que sejam sós__,
Alguém com quem se entende?
Um irmão mais bobo que vós?!"
"Temo sim sinhô vigário!"
"Mais pa agradá nossa madre,"
"largô o trabaio diário "
"e foi istudá pa padre!"
Brasília, 12/03/2020
Não sei a autoria do "CAUSO".Pode ser que consta em alguma Antologia.
Quem souber, por favor, avise-me para atribuir os créditos. visite: mauper.prosaeverso.net