Uma Sátira
Eu sinto um vazio
Que corrói meu intestino.
Se espalha como uma peste
Se manifesta como vitiligo.
O vazio de não ter
Ingressado a adultice,
De regredir-me ao primitivo
E sentir-me incontido.
A falta de gratificação
Me levou ao desespero.
Hoje sou puta,
Puta do coletivo.
Sou macho-alfa,
Mas sinto-me aprisionado.
Não fui capaz do contato.
Recalcado e incompreendido.
Tornei-me, portanto:
Filósofo ralé;
Perverso e travestido.
Sem rumo, sem sentido.
Sou homem barbado;
Alto, bem resolvido.
Um modelo virtuoso;
Um desgraçado, um fodido.
Defendo os desafortunados,
Coloco-me disponível.
A mercê do controverso,
Eternamente de castigo.
Tenho que vestir esta máscara,
Como que para me esconder.
Esconder meus delírios,
Meu passado de vícios.
Mas no fim vale a pena,
Pois ganhei em libido.
Quero ser libertino.
Quero o meu armistício.
Por onde passo sou visto.
Histriônico legítimo.
Sustentando a duras penas
Todo o encanto, todo o brilho.
Seja x ou seja y,
O que almejo é bem simples.
Quero ser sacrossanto,
Mas viver como ímpio.
Mamãe sempre soube
Que vim por suplício
Do fogo e da terra,
Da razão do início.
Engulam as minhas fezes,
Pois nasci foi pra isso.
Se não foi Deus quem lhes disse,
Em nada mais acredito.
A verdade, eu lhes digo.
De fato nada mais sinto
Pois esvazio-me a cada dia.
Me afundo em idealismo.
Se pudesse voltar, voltaria.
Aos meus pais, um sorriso
Agradeceria pela vinda à Terra.
Os enforcaria sem vestígios