Uma Sátira

Eu sinto um vazio

Que corrói meu intestino.

Se espalha como uma peste

Se manifesta como vitiligo.

O vazio de não ter

Ingressado a adultice,

De regredir-me ao primitivo

E sentir-me incontido.

A falta de gratificação

Me levou ao desespero.

Hoje sou puta,

Puta do coletivo.

Sou macho-alfa,

Mas sinto-me aprisionado.

Não fui capaz do contato.

Recalcado e incompreendido.

Tornei-me, portanto:

Filósofo ralé;

Perverso e travestido.

Sem rumo, sem sentido.

Sou homem barbado;

Alto, bem resolvido.

Um modelo virtuoso;

Um desgraçado, um fodido.

Defendo os desafortunados,

Coloco-me disponível.

A mercê do controverso,

Eternamente de castigo.

Tenho que vestir esta máscara,

Como que para me esconder.

Esconder meus delírios,

Meu passado de vícios.

Mas no fim vale a pena,

Pois ganhei em libido.

Quero ser libertino.

Quero o meu armistício.

Por onde passo sou visto.

Histriônico legítimo.

Sustentando a duras penas

Todo o encanto, todo o brilho.

Seja x ou seja y,

O que almejo é bem simples.

Quero ser sacrossanto,

Mas viver como ímpio.

Mamãe sempre soube

Que vim por suplício

Do fogo e da terra,

Da razão do início.

Engulam as minhas fezes,

Pois nasci foi pra isso.

Se não foi Deus quem lhes disse,

Em nada mais acredito.

A verdade, eu lhes digo.

De fato nada mais sinto

Pois esvazio-me a cada dia.

Me afundo em idealismo.

Se pudesse voltar, voltaria.

Aos meus pais, um sorriso

Agradeceria pela vinda à Terra.

Os enforcaria sem vestígios

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 05/12/2019
Reeditado em 05/12/2019
Código do texto: T6811151
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