De leite
Se és realmente de leite!
Não sei, hei de um dia descobrir.
Mas na ferroada que tine
Não será agora o momento
De tal averiguação
Começa leve a ponta do canino
E como espada fincada ao cérebro
Grito em desespero
Em vão, ele finge meu existir.
Um chá quente
Um bochecho de água morna e sal
Creme dental e lagrimas
Então mordo
Mordo o retalho,
A espuma
O travesseiro
E já sem vontade de chorar
Ainda desidrato em lágrimas
E ele, imóvel, deforma-me
O sono não existe
Ali naquele minúsculo quarto
Somos dois inimigos
Numa batalha perdida
Não consigo lutar
Assim, rompe a aurora.
É domingo, de cara cansada,
De pé frente a pia e espelho
Abro boca e te vejo
E encosto os dedos, e te apalpo.
Cai sobre pia, como um salto.
Morro de ódio
Ressuscito em alegria
Agora em enfeite
Eu na certeza que
Era dente de leite