A Quimera

I
(A Árida)

Honrada Madre Ciência,
pastora mor da verdade,
formada na quintessência,
filtrada em serenidade,
louvamos tanta excelência,
a amamos... Sabedoria!
Nos dá cultura vultosa,
suporta toda alquimia...
— Mas quanto tédio nos cobra,
ingente Filosofia!

II
(A Airada)

Prefiro ater-me a poética.
Um tanto em versos harmônicos
(disformes, brancos... canônicos)
se apronta a obra sintética.

"Eis meu poema sinfônico!"
Soberbo, entoa o ególatra.
"Tocante canto... e icônico!"
Agora e sempre um autólatra.

Assim arvora-se o pícaro.
E não o peça metáfrases,
pois que se zanga o Sir Ícaro.
Só loas preste às perífrases.

Por isso, avoco a poética,
mormente em tempos pós-ética.

III
(O Caso)

No raso, bem cá no raso,
É o poeta um infante,
um roto rei delirante
que faz do som um vassalo
e tem no incauto o amante.
Faz expandir um instante,
traz reformado o passado.

No mais, um pouco mais sério,
poeta é ilusionista,
do devaneio, ativista,
para a razão, impropério.
E pode até ser artista...
ou só ladino sofista.
Mas não é gozo o mistério?

IV
(A Síntese)

Por que sofrer por Verdade?
Bobagem, sóbria Sofia,
se a dama é a Fantasia!