Tostadeira
Fui à cantina comprar pão
O pão que salva as vidas
Das vidas que vivo em vão
Quando o estômago dói
O pão da padaria
Revendido a um preço alto
Nas janelas abertas
Fechadas para favores
O cheiro perdido
A quentura já extinta
As migalhas mais activas
O miolo endurecido
Mais de um quilómetro a andar
Debaixo de um sol ardente
Para pagar o preço injusto
Da mísera refeição
Quantas calorias perdi
Mesmo não tendo alguma
Para ganhar no processo
Trigo, sal e saliva
Não bastava o castigo
De viajar sem guarda-chuvas
Para me guardar do sol
Que não soube se encolher
Atirei-me inteiro
À violência costumeira
Na luta de quem só quer
Matabichar primeiro
Sobrevivi à guerra
De homens e mulheres
Cujos estômagos roncavam
A poucos metros do desmaio
Mas até chegar à mesa
Já não tenho os mesmos pães
Já estão frios, quase moles
De oferecer aos cães
É uma irritação pequena
Porém vale a pena
Apenas uma vez
Que há tostadeira em casa.