A RUA
Sabe,
Aquela rua?
Aquela cheia de casas
Casas com portas e janelas
Muita gente... morando nelas.
Naquela rua tem um guri
Que vive quebrando vidraças
E o pai dele?
O pai dele esta sempre na cachaça.
Bem perto é que mora a perua.
Aquela! Metida a besta.
Pensa que é dona da rua!
Ao lado mora a doceira
Que é uma grande fofoqueira
Foi ela quem falou
Que a filha do seu João
Está com baita um barrigão
E que foi estuprada
Tenho pena dela, coitada!
Mais naquela casa amarela
È que mora a magricela.
Uns dizem que é aidética
Outros dizem que está assim
Porque o amante largou dela.
Não sei o povo é que fala.
Assim como a Dudinha
Parece que virou galinha.
Naquela rua
Há muito falatório.
Disseram que no velório
Do laranjeiro o seu Antão
Tinha cinco viúvas, aos empurrões
Na beira do caixão.
Quem falou foi a costureira
Que tem uma filha mocinha
E se envolveu com um bichinha
Que vive sempre drogado
E tem um irmão abobado.
Naquela rua... existe muita confusão
Por causa de marido,
De cachorro, de criança.
Mais ninguém perde a esperança.
Porque a noite,
È muita calmaria,
E é só a Maria
Que troca a noite pelo dia.
Ela e mais cinco meninas
Com mais dez ou quinze amiguinhos
Que ficam puxando fuminho
E fazem muita arruaça.
Também rola muita cachaça,
Mais quem tem o sono pesado
Pode dormir sossegado.
Alheio a tudo...
È o velhinho da esquina
Aposentado... passa o dia sentado
A relembrar o passado.
Também não vão pensar
Que vivo a observar
O que se passa na rua,
Pois nem moro lá!
Além de tudo, sou distraída.
Só cuido da minha vida,
E tudo isso que contei
Foi só um dedinho de prosa
Que tive com a filha da Rosa.
Mais é só uma rua
Nem grande, nem comprida.
É um pedacinho de vida.