NEURASTÊNICO
NEURASTÊNICO
Miguel Carqueija
Agora eu vivo tremendo
de tanto que eu sou nervoso;
pois no Rio vou vivendo
e aqui tá horroroso!
Tenho filho adolescente
que só me dá é despesa,
e me escondo de parente
que assalta a minha mesa!
E ainda lido com a consorte
que me arrasa no cartão;
esta é a minha triste sorte
a caminho do caixão!
Vivo na maracujina
ou mesmo a passiflorine,
e até nesta torpe sina
me falam: — Não se amofine!
E o vizinho faz a festa
de ”funk” na madrugada,
insone eu bato na testa:
esta vida é uma parada!
Minha pressão foi pro espaço,
vivo tomando café,
fumando maço após maço,
me sentindo um Zé Mané...
Trêmulo vou trabalhar,
lá só me enchem o saco,
o jeito é aguentar
pra não fazer um barraco!
E vem o genro Sinfrônio
pedir algum emprestado,
vou parar no manicômio
de tanto aturar safado!
É juro, é taxa, é imposto,
o mercado a me explorar,
nervoso eu cubro o meu rosto,
qualquer hora vou pirar!
Doutor, me diz o que eu faço
porque não aguento mais!
— Pra aliviar o embaraço
viaje a Minas Gerais,
lá nas águas minerais!
O conselho não é mau,
e até agradou a mim,
porém me diga afinal
como farei isso enfim,
pois se me falta o dindim!
Esta vida não tem jeito,
estou preso na armadilha,
meus nervos vão me matar;
almoçando prato feito,
todo mundo me põe pilha,
vou rindo pra não chorar!
Rio de Janeiro, 11 de maio de 2018.
imagem pixabay
NEURASTÊNICO
Miguel Carqueija
Agora eu vivo tremendo
de tanto que eu sou nervoso;
pois no Rio vou vivendo
e aqui tá horroroso!
Tenho filho adolescente
que só me dá é despesa,
e me escondo de parente
que assalta a minha mesa!
E ainda lido com a consorte
que me arrasa no cartão;
esta é a minha triste sorte
a caminho do caixão!
Vivo na maracujina
ou mesmo a passiflorine,
e até nesta torpe sina
me falam: — Não se amofine!
E o vizinho faz a festa
de ”funk” na madrugada,
insone eu bato na testa:
esta vida é uma parada!
Minha pressão foi pro espaço,
vivo tomando café,
fumando maço após maço,
me sentindo um Zé Mané...
Trêmulo vou trabalhar,
lá só me enchem o saco,
o jeito é aguentar
pra não fazer um barraco!
E vem o genro Sinfrônio
pedir algum emprestado,
vou parar no manicômio
de tanto aturar safado!
É juro, é taxa, é imposto,
o mercado a me explorar,
nervoso eu cubro o meu rosto,
qualquer hora vou pirar!
Doutor, me diz o que eu faço
porque não aguento mais!
— Pra aliviar o embaraço
viaje a Minas Gerais,
lá nas águas minerais!
O conselho não é mau,
e até agradou a mim,
porém me diga afinal
como farei isso enfim,
pois se me falta o dindim!
Esta vida não tem jeito,
estou preso na armadilha,
meus nervos vão me matar;
almoçando prato feito,
todo mundo me põe pilha,
vou rindo pra não chorar!
Rio de Janeiro, 11 de maio de 2018.
imagem pixabay