UNHA-DE-FOME
UNHA-DE-FOME
Miguel Carqueija
Minha velha, vê se acorda,
não desperdiça comida!
O mofo só está na borda,
a broa não está perdida!
Vamos lá em casa, Gilberto,
fugir da chuva que enxágua;
não tem nada, é aqui perto,
te ofereço um copo d’água!
Eu não sou rico, ó Alice,
e o uniforme escolar
te serve o que usou a Nice,
vamos economizar!
Tem que ter moderação,
panqueca basta a metade,
a casa só tem glutão,
ó céus tenham piedade!
Esta vida é um tormento,
vou ficar sem um tostão,
parece que o alimento
é pra todo um batalhão!
Mas pra que ir ao cinema?
Na tv tem filme bom!
Essa vida é um dilema,
vivem gastando em batom!
E blusa nova pra que?
Tu já estás bem arrumado!
Quem me viu e quem me vê,
hoje eu só vivo enrolado!
E tu estás chateada,
tens é ânsia de gastar!
Pois hoje calça rasgada
é coisa de admirar!
E as contas só chegando,
vamos por velas na sala!
De gastar estou pirando,
tô quase fazendo a mala!
E por causa da família
minha carteira está rota;
seja esposa, filho ou filha
me levam à bancarrota!
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2017
UNHA-DE-FOME
Miguel Carqueija
Minha velha, vê se acorda,
não desperdiça comida!
O mofo só está na borda,
a broa não está perdida!
Vamos lá em casa, Gilberto,
fugir da chuva que enxágua;
não tem nada, é aqui perto,
te ofereço um copo d’água!
Eu não sou rico, ó Alice,
e o uniforme escolar
te serve o que usou a Nice,
vamos economizar!
Tem que ter moderação,
panqueca basta a metade,
a casa só tem glutão,
ó céus tenham piedade!
Esta vida é um tormento,
vou ficar sem um tostão,
parece que o alimento
é pra todo um batalhão!
Mas pra que ir ao cinema?
Na tv tem filme bom!
Essa vida é um dilema,
vivem gastando em batom!
E blusa nova pra que?
Tu já estás bem arrumado!
Quem me viu e quem me vê,
hoje eu só vivo enrolado!
E tu estás chateada,
tens é ânsia de gastar!
Pois hoje calça rasgada
é coisa de admirar!
E as contas só chegando,
vamos por velas na sala!
De gastar estou pirando,
tô quase fazendo a mala!
E por causa da família
minha carteira está rota;
seja esposa, filho ou filha
me levam à bancarrota!
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2017