O meu Sonho
Esta noite sonhei
Que o mundo ia acabar
Que tudo estava ao contrário,
Tudo de pernas pro ar
Ladrava o gato na esquina
Miava o cão no telhado
O sacristão de batina
Benzia e cantava o fado
No ninho chocava o galo
Em muito grande banzé
Cacarejava o pobre cavalo
Relinchava o garnisé.
Já o burro discursava
Perante grande assembleia
De morcegos, minhocas e gralhas
E mosquitos de pança cheia.
Até no adro da igreja
Era grande a confusão
Os santos em grande peleja
Brincavam lançando o pião
A missa dita em latim
Por foguetes lá no altar
Os mudos diziam que sim
E os padres rebentavam no ar.
E no cemitério da aldeia
Se dançava o corridinho
Com caveiras à soalheira
E ossos aplaudindo
As vacas guardavam peixes
Lá no prado a berregar
Sem que o grilo se queixe
Da ementa pro jantar
Até as ágeis andorinhas
Às marradas com morcegos
Pediam pelas alminhas
Menos trânsito de labregos
Ainda bem que acordei
Deste sonho sem melhora
E antes digam que pirei
Piro-me eu daqui pra fora
A.Correia