Margarina na Torrada

Virei a noite em claro e decidi escrever,

Seis horas, café, torrada e margarina,

Que tema explorar a essa hora da matina?

Passei margarina na torrada para comer.

Golinho de café, vou falar dos políticos?

Mordida na torrada, falar do amor?

Golinho de café, relembrar os meus micos?

Mordida na torrada, ou reclamar duma dor?

Caiu a torrada no chão, essa não!

Ela partiu na queda e sujou o meu chão.

Pega um pedaço, assopra e come,

Do outro a gata cuida, ela está com fome.

Aqui nessa manhã eu quero escrever

sobre algo legal que vai fazer o leitor

refletir e talvez, quem sabe, até passar a crer

em algo diferente ou então plantar uma linda flor.

Hmm, mas o que é que eu vou rimar?

Falar de animais e de ecologia

sendo um bom artista a favor da água do mar?

Ou trazer ao leitor uma nova filosofia,

Mudar um pouquinho o seu jeito de pensar?

Ah, puxa vida! Outra torrada caiu!

Mas o que é isso? A margarina para cima?

Santa Maria Mãe de Deus da nossa estima!

O Murphy afinal de contas mentiu!!!

Será que dá pra fazer um poema sobre a torrada

que caiu com o lado da margarina virado para cima?

Calma aí, calma aí, eu vou tentar essa parada.

"Torrada, torradinha, vi o segredo que escondia,

Achou que ninguém descobriria mas sempre chega o seu dia.

A verdade é que você não tem nenhum poder mágico

E todo aquele papo não passa de um fiasco."

Será que foi mesmo uma boa ideia explorar esse tema?

Nada contra, digo, é só que torrada não precisa ter poema.

O mundo está repleto de problemas que precisam de atenção,

Um poeta como eu deve trabalhar nisso para manter seu alto calão.

Sim, sim. Pois eu sou da elite. De genialidade impressionante!!…

…ah, espera, vi no dicionário aqui. O certo é alto escalão… escalão?

Mas que coisa esquisita. Em toda minha vida eu falei alto calão.

Podia ser uma palavra única para essa expressão, sabe, "alto calão".

Igual ao "fazer jus" e ao "vise alguma coisa", compreende? Seria cabível.

Eu ainda sou inteligente já que meu erro foi plausível. Muito inteligente.

Sim, como eu dizia, um poeta de alta genialidade cheio de personalidade.

Que transpira juventude em sua arte, transparencia a sua pouca idade.

Um artisa único e incrível. Só preciso pensar em um tema incrível para escrever.

Passa a margarina na torrada e come,

Assopra o café quente e dá outro gole.

Comer mais uma torrada sempre pode,

E no café também sempre mais um gole.

Mas do que é que vou escrever aqui nessa manhã?

Acordei inspirado para fazer algo lindo de se ler.

Acordei inspirado para fazer ao menos mais um fã.

Só que contra que coisa eu vou escrever?

O que criticar? Do que reclamar?

Ou então para quem me proclamar? Não estou nem apaixonado.

Ah, posso escrever sobre desamor! Ou não… esse tema já está manjado…

Eu podia escrever sobre alienação pela televisão,

Falar que o Brasil perdeu a sua educação.

Comentar o emburrecimento do povo brasileiro,

gritar o que o mundo já gritou como se eu fosse o primeiro.

Não… não… isso tá errado,

Não consigo me decidir sobre o que vou escrever,

Acho que eu preciso é ficar apaixonado,

Ou de uma nova caneca de café para beber.

Então dá um golinho e come a torrada,

Morde de novo e passa a margarina

Toda ideia de tema que eu penso é errada,

O jeito é ficar na torrada e na margarina.

Passa a margarina na torrada e come,

Assopra o café quente e dá outro gole.

Comer mais uma torrada sempre pode,

E no café também sempre mais um gole.

7/1/2015