SINA DE ROBÔ

SINA DE ROBÔ
Miguel Carqueija


Mas que triste vida a minha,
trabalhando pra essa gente!
Eu lido até na cozinha,
no guri eu passo o pente,

levo criança na escola,
ajudo a minha patroa,
carrego a sua sacola,
faço tudo numa boa!

Mas não sou reconhecido,
valho menos do que a gata,
por inferior sou tido,
me chamam sardinha em lata!

Nem me pagam ordenado,
não me assinam a carteira:
e assim eu sou explorado,
se deixar é a vida inteira!


Por que eu fui nascer robô,
sofrer tanto preconceito,
muito chateado eu tô,
pois faço tudo direito!

Vou entrar pro sindicato
da nossa classe oprimida,
vou participar de ato
protestando na avenida!



Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2015