O PALCO DOS MILAGRES
“A apetência pelo Poder”
Quando há dinheiro disponível
E palcos p´ ra discorrer
Fica sobejamente visível
A apetência pelo Poder.
Movem-se os bons sentimentos
Com virtudes de qualidade
E apresentam-se argumentos
De virtuais moralidades.
Contam-se votos adquiridos
Em consultas eleitorais,
Uns amanhados outros fingidos
E quem sabe quantos mais.
Nesta vil aldeia global,
Por entre o ter e o haver,
É da praxe tradicional
Abrir-se o jogo do poder.
O poder da competência,
O poder do compromisso,
O poder da emergência
E o poder do bom serviço.
Fazem-se juras de lealdade,
Com cortesias e afagos,
E, com toda a frontalidade,
Concorre-se aos lugares vagos.
Os cidadãos de boa-fé
Acreditam sinceramente
Que quem bem fala bom é,
Desta sorte, é cá da gente.
Boas-palavras, boas receitas,
É mesmo o que a gente quer
Pr´ às coisas ficarem direitas
Qu´ haja dinheiro, se houver…
Baila um discurso bem terno
Nos ouvidos do cidadão
Venha lá, pois, o governo:
Se houver dinheiro têm razão.
De São Bento, o Parlamento
Joga circo aos ziguezagues,
Palavras leva-as o vento
Neste palco dos milagres.
Há espinhos em todas as rosas
Neste país de ideias loucas.
Quanto a receitas milagrosas,
As boas curas são poucas.
A boa-fé cega as almas
Quer queiramos, quer não,
Mas ali batem-se palmas
Mesmo estando em aflição…
Os Maiorais todos se derretem
Volteando por entre flores,
Nem aquecem, nem arrefecem
E o País nos estertores!
Frassino Machado
In ODIRONIAS