PROMESSA MÓRBIDA

Não vou morrer!

Isto não se discute,

Pois vai que a morte escute

E me mande um clarim.

Não acreditarei no meu fim,

Nem naquela agonia,

Pois assunto de lápide fria

Não se põe à minha mesa.

É como simples certeza

Do sol depois da chuva.

Não há o que revidar

Como o vinho é da uva

E teu sorriso ser sedutor,

Pois se a morte é faltar amor

Ainda suspirarei paixão,

Mantendo o fraco coração

Até o próximo espasmo.

Isso será melhor que o marasmo

De ficar vivo nas letras,

Nos choros, nas melodias

De saudades e roupas pretas.

Não vou morrer

E ter meu reconhecimento só depois

Quero agora, quero a cada hora

Se merecer ser reconhecido,

Pois todo caminho comprido

Tem paragens e algum valor,

Tem gotas de suor

E outras de orvalho.

Não vou morrer,

Carpideiras me fazem rir

E já sei o que há de vir

Na madrugada do meu funeral:

Alguns chorando,

Outros me querendo mal

Ainda, mesmo se morto.

E as mulheres sem conforto

Querendo outro eu – mais um:

Não que eu seja incomum,

Mas não julgo seus modos...

Porém, se isto acontecer

Procurem um bom epitáfio

Que explique meus porquês,

Já que não mais poderei

Afirmar que procuro ser justo

E que não vou matar de susto

Os injustos julgadores.

Só me restará algumas dores:

As das lingeries que não te tirei;

E de não fazer valer a promessa

Que sempre proferi:

Eu não vou morrer (não cumpri!).

Tarcízio
Enviado por Tarcízio em 20/09/2015
Reeditado em 01/08/2016
Código do texto: T5388789
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