LIVRE ARBÍTRIO
Liberdade, liberdade, dai-me o poder da escolha
Impeçai que o juízo encabrunhado me acolha.
E faça qual aguardente que o cachaceiro arrolha,
Não quero passar a vida protegido numa bolha.
À tudo que me interessa o desalmado diz não,
Não corra, não fume, não beba, não caia em contradição,
Ah não perca a cabeça, ah escute a razão,
Não se zangue, não esqueça de manter os pés no chão.
Desde seu surgimento tenho sofrido um bocado,
O siso impede que eu erre apontando-me o pecado,
A consciência agradece mas o corpo é amortizado,
Reivindico meu direito de ser desajuizado!
Estou farto e satisfeito dessas recomendações
Tudo que tenho feito é controlar minhas emoções,
Por mais que eu queira dispor á outras inclinações
A voz do juízo ecoa me recordando as lições.
Atendei-me liberdade, ao menos deixe uma pista,
Ou terei de recorrer á um plano masoquista
E buscar meu livre arbítrio com um outro especialista
Pois sem demora eu agendo um horário com o dentista.