A REPÚBLICA VIP

Ao modo de “Catilinária”

Alguns anos atrás, irónico, dizia o povo -

Genuíno e honrado cidadão deste País -

Que se vivia na “república da banana”.

E sendo tão normal nada acontecer de novo

Vem agora uma Elite, senhora do seu nariz,

Fazer-se Vip enriquecendo à fartazana.

Pois se ela assim pensou assim melhor o fez

E vai daí, à luz de redentora Crise,

Cozinhou um “programa de oportunidade”

Para extorquir dinheiro ao povo português.

O macerado povo, sem nenhum deslize,

Nunca se apercebeu da vil iniquidade.

Com este palco aberto para o caciquismo

Cresceu por todo o lado a negra corrupção

Que, sem escrúpulos, usou o capital alheio

Justificando haver um enorme despesismo

Por parte do País que, vendado à exploração,

Caiu rapidamente em obscuro bloqueio.

Foram bancos, empresas, agentes financeiros;

Foram ministros, tribunais e autoridades;

Foram agências, comerciantes e proprietários

E, até, polícias, institutos e empreiteiros…

E, em todas as aldeias, vilas e cidades

Emergiram oportunistas e falsários.

Nasceu no Pantanal a árvore das patacas

Não para todos, obviamente, mas p´ ra Certos

Que plantaram proventos em loucos paraísos

E, entretanto, sem ter medo das ressacas,

Transformaram os comuns bens em maus desertos

Esvaziando ao bom povo a alma e os sorrisos.

Ficaram cá os dedos, foram-se os anéis;

Não há bananas, mas já há dourados Vistos;

Foram pra fora os novos, vieram mercenários;

Não há saúde mas ergueram-se coronéis,

E negócios chorudos medraram como quistos

Tendentes a impedir os vendavais contrários.

O que acontece cá, ou deixa de acontecer,

Quer seja verdadeiro, falso ou chinesice,

(Questão que não diz nada e é de pouca monta)

Permite ter estatuto, e até VIP se pode ser

Pois quem tem lata tem ciência e não burrice

Que esta Justiça lusa virou barata tonta…

Ai, ó República, tu que já és VIP e lente –

Que quer dizer, à letra: vai inútil português –,

Que esperas deste cidadão que não se doma

Por sentir-se frustrado com o seu presente?

Pois, reza a Tradição que no auge das marés

Ele, orgulhosamente, gritar-te-á: ora TOMA!

Frassino Machado

In ODIRONIAS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 19/03/2015
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