UM AMOR DE PAPEL
Na penumbra silenciosa de um arquivo
Um Requerimento apaixonou-se loucamente
Por uma linda Procuração.
Ela, que de há muito procurava
Alguém com aqueles requisitos,
Imediatamente deu-lhe plenos poderes,
Legou direitos, cobrou deveres
E encerrou sua procura.
Ele adorou sua linguagem,
Pontos, vírgulas e margens,
Uma beleza de documento.
Apresentou seus dados:
Estado civil, gaveta, prateleira,
Fez promessas de amor pra vida inteira
E, mui respeitosamente,
Requereu a sua mão.
Ilustríssima senhora Procuração
Eu, Requerimento, brasileiro, solteiro,
Residente à gaveta número sete,
Pasta Documentos Pessoais,
Solicito, para fins matrimoniais,
Que me seja concedida a sua mão...
E nestes termos pediu
E lhe foi dado deferimento.
Algum tempo depois da improvável união
Surgiram papéis, minutas e rascunhos
Que eram fiéis testemunhos
Da incontida paixão.