UM AMOR DE PAPEL

Na penumbra silenciosa de um arquivo

Um Requerimento apaixonou-se loucamente

Por uma linda Procuração.

Ela, que de há muito procurava

Alguém com aqueles requisitos,

Imediatamente deu-lhe plenos poderes,

Legou direitos, cobrou deveres

E encerrou sua procura.

Ele adorou sua linguagem,

Pontos, vírgulas e margens,

Uma beleza de documento.

Apresentou seus dados:

Estado civil, gaveta, prateleira,

Fez promessas de amor pra vida inteira

E, mui respeitosamente,

Requereu a sua mão.

Ilustríssima senhora Procuração

Eu, Requerimento, brasileiro, solteiro,

Residente à gaveta número sete,

Pasta Documentos Pessoais,

Solicito, para fins matrimoniais,

Que me seja concedida a sua mão...

E nestes termos pediu

E lhe foi dado deferimento.

Algum tempo depois da improvável união

Surgiram papéis, minutas e rascunhos

Que eram fiéis testemunhos

Da incontida paixão.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 27/09/2014
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