A VIZINHA E O PÓ(ETA)

   Ela não disse tudo
   Mas, nem precisava
   Seus olhos estavam ali
   E atestavam suas intenções
   (Que coincidentemente, também eram as minhas)
                                       
   
   E seus olhos eram um livro aberto
   Mas, meu corpo só estava o pó
   E meus olhos, cegos àquela linguagem

   Ela da altura dos seus olhos
   Percebeu o meu fracasso
   E riu, riu e riu, ria com os olhos

   Eu poderia ter decifrado aquelas risadas
   Mas, meu corpo só estava o pó
   E meus ouvidos surdos àquela linguagem

   Eu queria dizer-lhe tudo
   Mas meu corpo só estava o pó
   E meus lábios mudos àquela linguagem
   
   Então, eu disse: boa noite

 
 
   S. Paulo, 12/1996
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CORDEIRO de ITIÚBA
Enviado por CORDEIRO de ITIÚBA em 08/09/2014
Reeditado em 08/09/2014
Código do texto: T4953595
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