Vejam só o meu azar!
Mulher que arranjei
É dura de entendimento
E só mais tarde reparei
No quanto eu me enganei
Pra meu grande tormento.
No princípio eram rosas
E meiguices sempre no ar,
Aos poucos foi se mudando
E o rabo para mim virando
Fingindo até ressonar.
Pra meu maior castigo,
Diz que não dorme comigo
Porque cheiro mal dos pés,
Mas eu acho que é desculpa
Por estar já meio maluca
Sempre a olhar-me de viés.
Manda-me fazer a cama,
Lavar roupa e cozinhar
E ainda afirma, põe-te fino,
Ouve bem ó meu menino!
Ou ainda vais amargar.
Vejam lá se isto é de gente,
Quando lhe dá um repente
E no meu corpo quer malhar.
Oh mulher má e estuporada
Rancorosa, de mente insana.
Tu que tanto me maltratas
Quando rosnas que me amas.
Vejam quanta ruindade
Naquele corpo que amei.
Burrices da mocidade
E dor dos coices que levei.
Por isso vos afirmo eu
E a este meu camafeu
Que não perde por esperar,
Qualquer dia pego em mim
Já que não a aguento assim,
Vou-me embora, vou desertar.