Língua dura

Minha língua dura

Não augura entendimento

Consagra-se quieta, em silêncio

Há cimento aqui em meus verbos

Minha língua dura

Em descompostura muscular

Afoga-se na saliva

À deriva, dentro da própria boca

Minha língua dura,

Contemplou o céu que podia,

Mas em noites de azia

recolhia-se, em profundo azedume

Minha língua dura

Delinquiu em sequestros

Em manifestos de explícita feiura

Para que normas, Marias, Normas?

Minha língua dura

Rendeu-se à anestesia do dentista

Sob a ameaça do dente podre

Foi-se o dito cujo, marujo infeliz!

Minha língua dura

Embebida na luxúria do champanhe

Requer sim caviar que acompanhe

Para amolecer, apurar o paladar

Minha língua dura

Bem que tentou a loucura do beijo

Desejo e só. Nó-cego, borra-botas, pato

Está no contrato. Celibato, celibato

Minha língua dura

Passeou por gruta escura, quente

É evidente, não julguem indecência

Restos de comida são pura inconveniência

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 14/11/2013
Reeditado em 31/01/2021
Código do texto: T4570678
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