Língua dura
Minha língua dura
Não augura entendimento
Consagra-se quieta, em silêncio
Há cimento aqui em meus verbos
Minha língua dura
Em descompostura muscular
Afoga-se na saliva
À deriva, dentro da própria boca
Minha língua dura,
Contemplou o céu que podia,
Mas em noites de azia
recolhia-se, em profundo azedume
Minha língua dura
Delinquiu em sequestros
Em manifestos de explícita feiura
Para que normas, Marias, Normas?
Minha língua dura
Rendeu-se à anestesia do dentista
Sob a ameaça do dente podre
Foi-se o dito cujo, marujo infeliz!
Minha língua dura
Embebida na luxúria do champanhe
Requer sim caviar que acompanhe
Para amolecer, apurar o paladar
Minha língua dura
Bem que tentou a loucura do beijo
Desejo e só. Nó-cego, borra-botas, pato
Está no contrato. Celibato, celibato
Minha língua dura
Passeou por gruta escura, quente
É evidente, não julguem indecência
Restos de comida são pura inconveniência