Valdete revirada
Pela morte, o choro
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Segue o coro de uivos
Segue o corpo e o cortejo
A defunta de cabelos ruivos
vai carregada em sacolejo
De um lado, sete tias
De outro, mais sete
Já pensando benfeitorias
Com o espólio de Valdete
A cova aberta chama
O caixão tomba na terra
Nem bem plantaram a grama
Foi proclamada a guerra
Não venceram sete dias
E a missa nem foi rezada,
Mas já brigam catorze tias
Pela herança da finada
No caixão revirada,
Valdete fez de ressuscitar
Queria ter com a cambada
Que enriquecera de pernoitar
Engasgou com uma flor e morreu
Não precisava enterrar
Ao purgatório foi de elevador e desceu,
Mas ali não quis ficar
O que fazer, voltar?
O elevador não sobe mais
Bondade na vida foi pouca
Deu esmola a um rapaz
Voltou, inspecionou a sepultura
Nem pedra tinha, nem sua figura,
Mas é que ainda estava fresquinha
A protocolar semeadura
Veio a vizinha confortar
Disse para ler os dizeres da coroa
– Saudades de suas catorze tias –
Ô frasinha mais à toa...
Que jeito tinha senão assombrar
Assustá-las com hora e senha
Tomou o ônibus sem pagar
Com destino Lapa-Penha
Foi no banco dos velhinhos
E o motorista nem a viu
Olhou só a mulherada
Do decote até o quadril
Mas se visse... aposte
Entraria com o ônibus no poste!
Mesmo sem ver, distraiu-se, bateu!
Valdete de novo morreu
Na cama revirada,
Valdete fez de acordar
Queria água filtrada,
Remédio para febre baixar