Lingua malvada!
Não sou parco em palavras,
Antes, na sua articulação.
Enuncio-as bem preparadas,
Mas a minha língua diz que não.
Que vergonha que tormento,
Que língua tão preguiçosa.
Quando a sós me lamento,
Entorta na boca, a maldosa!
Numa declaração de amor,
Sai-me um som esquisito.
E ela fica com tal torpor
Que eu não falo, eu grito.
Quentinha e bem protegida
Que razão tens tu afinal.
Porque és assim presumida
Porque me fazes tanto mal.
Ranhosa, mal comportada,
É o que me apetece dizer.
Sua verme, mal-humorada
Que só sabes escarnecer.
Lambisqueira e atrevida,
Sim! És tu, língua malvada.
Vai, trabalha, dá uma mexida
E não dês tanta calinada.
Até já a pensei em cortar
Pois não me dá nenhum consolo
E depois de muito pensar…
Antes mudo do que parolo.