À espera do príncipe
De lânguido e altivo olhar
Ela mirava o horizonte...
Acreditava em contos,
Romances, filmes, novelas e fábulas;
Rezava empedernidamente.
A qualquer momento surgiria
No seu horizonte particular,
Era só esperar; todas merecem
Um príncipe, um cavalo branco,
Um palácio, com ama seca,
Cavaleiros, Sogra rainha, bobo da corte;
Até madrasta peçonhenta e vilã
Poderia vir no pacote;
Com sua vilonice e tudo. Da nada não.
No fim tudo acaba bem mesmo.
Odiava gente feia até à alma.
Até que um dia, como por encanto,
Surge um terra-seca em seu jumento
Desencantado e com cara de fome.
Empaca na frente de sua janela,
Dá um sorriso desdentado,
Solta uma praga de urubu;
Ela não é cavalo gordo. A praga pega.
“O caba rim do norte”. Brilha.
A espera era tanta, e a praga tão forte,
Que o “caba esgualepado”
Mufino e raquítico, pareceu forte;
O molambento parecia vestir -se de
Púrpura aveludada e carmim.
Um príncipe do avesso.
Hoje ela mora na caatinga
Cercada de cabecinhas achatadas,
Choronas, catarrentas e barrigas de lombriga.
A cegueira encantada do amor venceu.
E ela, gatinha pelega? Se fudeu.