Algodão

Pico-me na porta

Numa falha torta

Vai-se de mim um gritar

Sangro um jarro quente

O corte foi rente

Ao meu rico bem pensar

A vizinha aflita

Grita, grita, grita

Diz-me calmas de uma hora

Mas já não a oiço

Sinto-me baloiço

Corro pela estrada fora

Se eu tivesse visto

Ou talvez previsto

Que a cabeça ia alta

Tinha-me cuidado

Joelho dobrado

Que a cabeça é que faz falta

Juro e lamento

Neste sangramento

Sai-me já um coração

Mas fico seguro

Não se reza ao escuro

Traz-se sempre algodão

A vista está presa

Numa incerteza

Corro ou fico parado?

Ai que o sangue esquenta

Depois quem se aguenta

Sou eu, pobre coitado!

O povo socorre

O suor escorre

Há matéria pra semana

Pego nele branco

Esfolo e arranco

Algodão não engana.

Se eu tivesse visto

Ou talvez previsto

Que a cabeça ia alta

Tinha-me cuidado

Joelho dobrado

Que a cabeça é que faz falta

Juro e lamento

Neste sangramento

Sai-me já um coração

Mas fico seguro

Não se reza ao escuro

Traz-se sempre algodão