O Brasileiro
José Castro era um cara de vida simples
Nascido na Bahia, nunca trabalhou
Não teve filhos, não casou
Mas segundo Zeca afirmava
Levava uma vida regada de amor
O povo gostava dele e então o “empregou”
Contrariando o sistema, José vivia de favor.
O emprego dele era o de CEO: Chefe Esperançoso da Ocasião
Sempre que aparecia alguém triste
Sem fé na vida, sem fé em Deus, só na partida
Zeca colocava a mão no ombro do sujeito e o consolava.
A mulher do Pedro estava nas últimas
Não tinha chance contra o Câncer
Mas Zeca deu seu parecer
“A medicina está avançada...”
O filho da Maria não passou em engenharia
Depois de 7 vestibulares consecutivos
Mas Zeca deu seu incentivo
“ Ele vai ser é um grande executivo”
O Marido de Josefa foi comprar café há 2 anos e não voltou
O Zeca ficou embaraçado, mas o defendeu com clamor.
“ Quem espera sempre alcança, ele volta, tenha esperança”
Zeca sabia que o mundo era uma devastação, uma tortura
Que o povo vivia de pecado, lamentações e amargura
Zeca sabia que o mundo era habitado por gente corrupta
Que massacrava muitas vidas e não era um bom lugar pra viver
Em contrapartida, Zeca ficava feliz por o mundo ser do jeito que é.
Afinal, se tudo fosse bom, e nada fosse mal, a vida seria banal.
Pessoas virtuosas, esperançosas, otimistas como ele
Não precisariam existir. Não teriam nenhuma função celestial.
Certo dia Josefa reapareceu e o abraçou com gratidão
“Meu marido voltou. Zeca, o senhor é um profeta.”
Zeca ficou todo lisonjeado, chegou a corar.
“Mas tem um problema...estou a me preocupar”
“Seja o que for, tudo vai se acertar” – Zeca afirmou.
“Faz uma semana que meu marido saiu e não retornou mais”
Zeca sem pestanejar falou:
“ Ele esqueceu foi do açúcar.”
Josefa por mais uma vez na vida teve um suspiro de esperança.
Que bom que existam ainda muitos brasileiros como o Zeca
Que apesar de tudo não deixam “cair a peteca”.
E renovam a confiança de outros tantos sujeitos
Que ainda não aprenderam de nenhum jeito
Que é preciso, primeiro, deixar a tempestade passar
Para em seguida, quem sabe, enxergar a bonança.