ESCUTA ELA NÃO, DOTÔ!
Dotô! Escuta ela não! Essa mulher só faz confusão!
Pegou minhas coisas jogou lá pra fora, fechou o portão!
Saiu pela rua falando pro povo lá do quarteirão,
Que ia se vingar e ainda me ver dentro da prisão!
Dotô! Não dá trela, não fala com ela, escuta ela não!
Tá brava comigo porque azarei a boa vida dela.
Era o dia inteiro sentada na sala assistindo novela.
A minha camisa toda amarrotada que ela não cuidava.
Ia lá prá vizinha falar dos artistas que ela mais gostava.
Na minha cozinha, em nenhuma panela se via comida.
E nem se importava em saber que eu ficava danado da vida.
Até meu chamego, dotô, a mulher já não dava mais não.
Já faz muito tempo, nem sei, nem me lembro, mas faz um tempão.
Era Hebe, Ratinho, Adriane, Gimenez, Raul e Faustão.
Futebol, corrida, receita, notícia só de confusão.
No meio da tarde lá vinha, fofoca, pastor, pregação.
Notícia, polícia baixando o porrete sem dó no povão.
Pras tantas da noite, dotô, a malvada não deitava não.
Ficava altas horas assistindo algum filme só de pegação.
Foi aí que com raiva, peguei bem no jeito o pau de macarrão.
De uma só paulada quebrei a megera da televisão.
Ela esperneou, gritou, e berrou, xingou palavrão.
Saiu pela rua falando prô povo lá do quarteirão,
Que ia se vingar, que ia me ver dentro da prisão,
E que eu nunca mais iria implicar com a televisão.
Agora o senhor é quem vai decidir toda essa contenda.
Ela está querendo sem dó nem piedade que o senhor me prenda.
Sou mais o senhor, seu doutor delegado, a vida é assim.
Escuta ela não, me deixa ir embora, tem pena de mim!
Escuta ela não dotô!...