cacos de acrílico

o meu passado me absolve

o meu futuro me condena

o meu presente nem se move

o que é melhor, não me dá pena

estou em falta com o juízo

o espremi na dobradiça

e pendurei o improviso

numa parede de cortiça

já fiz um novo inventário

dos beijos que não recebi

e me tornei um mercenário

com o que na igreja aprendi

na tela tem um filme torto

no palco a peça pede bis

e na cadeira sem conforto

escuto o que ninguém me diz

o passarinho voa alto

mas desce ao chão pra descansar

eu acordei num sobressalto

com a juventude no pomar

nas camas em que não dormi

com a mulher que desejei

vi que foi muito o que aprendi,

mas muito mais o que não sei

a intolerância do quiabo

é não descer como ele quer

a intolerância do diabo

é só levar quem não quiser

o alce se entreolhou com a onça

e viu a mesa de jantar

e aposentou a geringonça

que era o seu ferro de engomar

a hipertensão me incomoda

ganhar dinheiro, é claro, não

não sei se estou fora de moda

tempero o sal com o agrião

se eu fosse dono da cerveja

não sobraria pra ninguém

só se tivesse brotoeja

dizendo “coça aqui, meu bem”

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 31/01/2013
Reeditado em 31/01/2013
Código do texto: T4115098
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