cacos de acrílico
o meu passado me absolve
o meu futuro me condena
o meu presente nem se move
o que é melhor, não me dá pena
estou em falta com o juízo
o espremi na dobradiça
e pendurei o improviso
numa parede de cortiça
já fiz um novo inventário
dos beijos que não recebi
e me tornei um mercenário
com o que na igreja aprendi
na tela tem um filme torto
no palco a peça pede bis
e na cadeira sem conforto
escuto o que ninguém me diz
o passarinho voa alto
mas desce ao chão pra descansar
eu acordei num sobressalto
com a juventude no pomar
nas camas em que não dormi
com a mulher que desejei
vi que foi muito o que aprendi,
mas muito mais o que não sei
a intolerância do quiabo
é não descer como ele quer
a intolerância do diabo
é só levar quem não quiser
o alce se entreolhou com a onça
e viu a mesa de jantar
e aposentou a geringonça
que era o seu ferro de engomar
a hipertensão me incomoda
ganhar dinheiro, é claro, não
não sei se estou fora de moda
tempero o sal com o agrião
se eu fosse dono da cerveja
não sobraria pra ninguém
só se tivesse brotoeja
dizendo “coça aqui, meu bem”