O cabo eleitoral
Parido de sete meses,
Porque era apressado,
Eu lhe disse muitas vezes:
- Fica com o bico calado!
Mas ele não aprendia,
E em tudo se metia,
Fazia ares de doutor,
Parecendo um advogado...
Estudou só o primário
E foi logo pro labor,
Foi ser um portuário
E virou estivador.
Mas a estiva era dureza,
E não era com certeza,
Aquele trabalho duro,
Em verdade, o seu pendor...
Foi defender sua classe
E virou um líder sindical.
Mas por mais que ele tentasse,
Querer ser um radical,
Não era aquilo ainda,
Que ele queria ser...
Teria que matutar
Sobre o que empreender...
Foi então que um deputado,
Representando o seu Estado,
O convidou para ser cabo eleitoral...
Aquele sim, era um trabalho legal...
Ir de cidade em cidade,
Frequentar a sociedade,
Dormir, beber e jantar,
E à noite, discursar...
No interior do Estado,
Em Cambuci foi parar,
E o deputado já sem voz,
Depois de uma viagem atroz,
Deu-lhe o microfone
E pediu que ele saudasse o povo...
E ele saudou: - Meu povo fluminense,
Amigos de Cambuci, povo cambucetence!