TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO DE DRÁCULA
Como eu sou ansioso!
E pensar que um dia já fui normal,
Espontâneo, descontraído, natural...
Hoje amanheço agitado e anoiteço nervoso!
É a neurose! Esta víbora linguaruda que me cospe peçonha,
E me envenena, e me domina, e me faz passar vergonha!
Quanto mais me esforço para ser igual a toda a gente
Mais as manias fazem de mim um vampiro diferente!
Saio do meu frio castelo e vou caminhar no calçadão da praia
Numa linda manhã de domingo, debaixo do Sol que raia,
Com óculos escuros para esconder minhas olheiras profundas!
Que diabos! A obsessão me ataca quando menos espero,
E tenho que contar todas as sacolejantes bundas
Enquanto caminho! Tento parecer normal na multidão,
Não quero que ninguém perceba minha maldita compulsão!
E é aí, no clímax do transtorno, que me desespero,
Surge a sede sanguinária! Procuro uma carótida para morder,
Mas só encontro sangue anêmico e do tipo AB,
Este não me apetece, me provoca azia, náusea, tontura...
Prefiro sangue saudável e do tipo B,
Para satisfazer minha ânsia hematófaga, minha secura!
Ao cair da tarde, antes do anoitecer,
Retorno do passeio: língua avermelhada, respiração ofegante...
Deito no meu caixão depois de tomar um calmante,
Mas tenho que conferir dezenove vezes a fechadura da porta,
Viro e reviro a chave até a coitadinha ficar torta,
Cumprido esse ritual, aí sim! Consigo relaxar e adormecer!