O GALO E O PERU
Gil Vicente F. C.,1 X S. L. e Benfica, 2
Na verde capoeira da Academia
Puxando forte pelo seu badalo
A orgulhosa Águia chamou o galo
Cantando no final daquele dia
Não só uma jeitosa melodia
Mas também uma dança de regalo.
O galo levantou a sua crista
E julgando que a Águia era peru
Mandou tirar do fundo do baú
A sua indumentária imprevista
Qu’ ao causar tremedeira alarmista
Provocou na capoeira sururu.
É verdade que, e ninguém s’ espante,
O maioral da banda prometeu
Que se trouxessem pr’ a casa o troféu
Daria como prenda um bom ‘spumante
Qu’ ao longo da semana num instante
Faria alegre todo o povoléu.
Mas, todavia, ao longo da refrega,
A Águia, sem puxar pelos seus galões,
Virou o mais vaidoso dos pavões
Dando ao pobrete galo uma esfrega
Salvaguardou a honra e a adega
Do brioso imperador dos fanfarrões.
Que primorosa feira de vaidades
Na passarela há da espécie humana
Que dos ideais comuns retira a fama
Que até a mais abjecta das vitórias
Fornece às almas justas as vanglórias
Num vergonhoso e triste panorama!
Frassino Machado
In RODA VIVA