O CASAMENTO É ENCANTADO... *
Amar é dar, a quem não quer o que não se tem...
Você sente-se atraído, ou está amando alguém...
Quer, a qualquer custo, impressionar este bem
E para isso, a qualquer coisa, logo diz amém...
Mas não vai, ser você mesmo, conseguir
Vai aparecer, tentar impressionar, insistir...
Entusiasmado com o que você demonstrou ser
O outro aceita, como seu amor, você...
E para corresponder ao que viu na imagem sua
Decide também esconder a própria imagem nua...
E assim, joga também, e dá o que não tem...
Mas, o segredo, não contam pra ninguém...
Mais tarde percebem que o que era já não é...
Desanimados, ambos descobrem, já sem fé,
Que, sem perceber, deram um ao outro,
O que não tinham; O que resta é pouco
E o que ambos receberam, agora, repudiam...
Ficaram as cenas que suas vidas coloriam...
Descobrem, enfim, a falta de autenticidade
Na convivência, e desejam reviver a felicidade...
Vêem o real, mas decidem continuar a relação
E a união manter, pelo encanto da emoção...
E a partir de então tornam o fingimento
Uma necessidade, pra que haja casamento...
Ibernise.
Indiara (GO/Brasil), 18.11.2006.
Excerto do Poema “O Casamento é Encantado”
Z. Freud escreveu: "Amar é dar o que não se tem a quem não
o quer..." Esta afirmativa pode levar a uma reflexão, considerando a forma como este Doutor da alma humana define o amor.
Estamos acostumados a colocar nossas ponderações, sobre esse sentimento nobre, 'amor', no âmbito da moral, religião, onde este se revela altruísta. Contudo, a análise psicanalítica estabelece não uma definição, um conceito, mas uma relação objetal.
É... Amor como objeto. Santo Agostinho em "As Confissões" ao analisar o pecado e o amor, expõe: "O que eu amo quando amo a Deus?", ou seja: O que eu amo quando amo alguém? Nessa linha de pensamento situa-se a questão do sedutor e do seduzido. É esta a cortina emocional que impede o amor de 'enxergar'.
Na verdade esta 'cegueira' é uma composição de dupla cumplicidade onde cada uma das partes a desejante e desejada, estão revestidas de significados por suas cenas poéticas particulares... Daí pode-se parar e pensar: O que se ama, quando se ama?
Freud imaginou que o ser amado é coberto pelo amador por uma 'capa', que significa a sua própria fantasia, seu amor idealizado. O ser amado por sua vez não sabia, ou não tinha conhecimento do teor da imagem desta 'capa'. Mas logo percebe, e por ser bem 'gratificado' pelo que não é, faz o mesmo pelo amador que retribui o reconhecimento da mesma forma. Ou seja, ambos estariam fingindo ser o que não são, para serem reconhecidos pelo que gostariam de ser... Esta mentira, é inconsciente, já que o amor é cego... E assim a paixão arde e o desejo trai, mas esta será uma outra história...
Ibernise.
Indiara (GO/Brasil), 31.12.2006.
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