Valente
Sentou-se na cadeira a minha frente.
Estava calmo - aparentemente.
Foquei com cuidado a minha lente.
Ele sabia, estava ciente.
Era um caso sério, urgente e, eu,
um profissional competente.
E então, de repente,
foi ficando branco, transparente,
expressão de medo latente,
de pavor, evidente.
Reclamou do ar inexistente.
Saiu, assim, abruptadamente,
de pensamento ausente
-nem notou o pé dormente.
Abriu a porta a sua frente.
Os carros passavam rente
-quase causa um acidente.
E assim meu paciente,
num ato inconsequente,
num repente,
não deixou
que eu
lhe extraísse um dente!