Despedida
Ainda lembro de ti com a vida radiante
De quem aos poucos amadurece com rubor.
Dentre os demais, mesmo que por demais semelhante,
Destacava-se aos meus olhos tua cor.
Eu soube esperar o tempo necessário
Para em minhas mãos abrigar-te do relento.
Resgatei-te do bucólico cenário
Pois te provar era meu intento.
Com ansiedade, vi teu banho em águas quentes
E o desejo de te saborear em mim cresceu,
Sentir teu gosto, ter-te entre meus dentes,
E ter a certeza de que tu eras meu.
Por muito tempo te carreguei comigo
Até que uma forte dor a separação anunciou.
Descobri que tu, agora sujo, não é mais sequer meu amigo,
Pois nessa massa fétida tua cor mergulhou.
Aliviado pelo peso da dolorosa despedida,
Sentado, volto a face para baixo, ao exílio
Exausto, com o rosto molhado, levanto para a partida
Não sem antes dizer: “adeus, grão de milho”.