Canção do Basílio
Minha terra tem Corinthians,
Bangu, Caldense e o Bonsucesso.
Os políticos que aqui gorjeiam,
Roubam até não poder mais.
Minha terra tem Cruzeiro,
Botafogo, Yuracan e o Gurarani,
que já foi índio e acabou.
Minha terra não tem mais
jacarandá nem pau-brasil,
restou uma nuvem escura
no Congresso
onde desencanta a juriti.
Minha terra não é minha,
moro num apartamento alugado.
Minha terra é do artista,
da corista, do analista,
que viraram latifundiários.
Minha terra está em guerra,
morre um montão todo dia,
um bandão toda noite
e de madrugada também.
Minha terra não tem gazelas
e o Chico Buarque
está dando o fora
junto com os sabiás.
Minha terra tem miséria, muita,
e favelas, como o mato,
que já foi favela não de ratos.
Já teve ela o amar
e o preamar -
faz tempo,
Já teve ela muitas belas,
agora quase só nas telas
das tvs de cristal líquido.
Minha terra tem janelas,
todas com grades,
tramelas, gamelas,
sentinelas.
Mal sobra o desgosto,
de nela sonhar.
Minha terra tem finados,
chinelas,
e o doce lar
da Eletrolar.