Emoção não tem idade
Caminhava tranquilamente
Um velho e simpático senhor
Ia todo sorridente
Até que lhe vem o horror.
Ele soluça sem motivo
E se engasga com a dentadura.
O coitado, com insentivo
entrou nesta batalha dura.
Conseguiu se livrar,
O treco voa supreendentemente
Até no chão parar
Mas o véio ficou sem dente
Um cachorro mode, maledito!
E leva à uma criança.
O moleque, recentido
Para longe lança;
O velho quando chega perto
Já estava longe.
A criança não sabe onde lançou ao certo
"Acho que é perto daquele monge"
E foi o corcunda até uma estátua velha
E começou a cavar no chão
O guarda chegou e não deu trela
"Tu vai pro camburão"
Coitado, só queria a dentadura
Pra ficar esbelto pra sua velhinha...
"O vida dura"
Pensou também: "Já era com a gatinha"
O solteirão ficou, na sela, num canto
Até segunda ordem.
Desesperado rezou pra tudo o que é santo
Pensou: "Será que hoje eles me ouvem?"
Azar, acho que estavam ocupados
Pois chegou outro azarado:
O gago com o guarda brigou
Não sei como, mas funcionou
E ficou o velho gaga e o gago
Então, entendiado, rolou a prosa:
"A coisa está grossa"
"Você nunca go, ca go, ca go..."
"Que? Gaguei o que?! Fala direito!"
"Ah! Vá... Vá... Vá..."
"Vá o que sujeito?!"
"Vá... Vamos convesar"
"Quer ajuda para parar de gaguejar?"
"É pra já, já, já..."
"Repita de vagar:
Eu nunca gaguejei"
"Eu num ca ga, ca ga..."
E o guarda se assutou
Levou o gago pra cagar
E a porta aberta deixou
O velhote tentou escapar
Mas atrapalhou a lerdeza
"Mas que beleza"
O guarda veio a ironizar.
O velho a gengiva lambeu
E tentou se explicar
O guarda, que percebeu
No pé veio a vomitar
Quando se aproximou
O pé escorregou
Bateu a cabeça e ficou desacordado
E fugiram velho e o gago lado a lado
"Ah! Ar fresco"
"Eco, co, eco, co"
"Ecologico? Ecosistema?"
"E coco, o cheiro ma... Ma..."
O velho havia pisado
"hoje eu tô azarado"
O gago foi embora sem falar nada
E o velho, de longe agradeceu:
"Valeu camarada
Se não fosse a tua cagada
Estaria na sela quadrada"
E saiu o velho novamente
Todo sorridente.
Mas ele não estava sem dentadura?
Sim! E saiu assim na rua.
Chegou no banco do parque combinado
E da sua gatinha, sentou-se ao lado.
Ela deu um sorriso amarelado
E ele um desdentado.
A velha disse: "Que cheiro gostoso de café"
O velhinho olhou para o seu pé
E confirmou receoso: "É..."
Consigo penou: "Que bom que não sentiu o 'chulé' "
Pois é, ele fez "marquinha"
Na rua e na casa da velhinha
Mas tudo bem, ele limpou
E no fim, tudo bem acabou.