Terrorismo caipira (atentado ao português)
Iscrevo aqui as bestaje maior do mundo,
num sô poeta, num sô nada, sô só Raimundo.
Vim só pra dizê a história
da disilusão co'amia amada.
Peço esse dedin de prosa
pra falá da minha Rosa que o vento levô.
Tava eu co'meu amô lá de bobera,
em plena segundafêra quando o portugueis passô.
Percebi qui o zóio dela briô diferente
e o olhar se desviô di eu di repenti.
Ele tinha uma correnti di oro puro
e fala tudo certo, bicho isperto, bicho isperto.
Pensei eu cumigo:
"Um dia te acerto um soco no imbigo."
Passei a mão no istrumi e fiz jeito di jogá
e ela riu do meu ciúme di jeca-pobre-capiár.
Dali em dianti, botei reparo no tipinho,
até comprei mai munição pra espingarda di chumbinho.
Dia desse, isperei a Rosa pra namorá
e a danada veio nada, nem as cara deu di dá.
Mi subiu uma quentura, mi ferveu os pacová,
espingarda na cintura pra modi í procurá.
Jesuíno-copo-bão, o maior pingaçero da região
feiz questão di mi ajudá.
Ia o cerca-frango na frente, mostrando o caminho.
Pensei eu cumigo:
"Diacho! Antes tivesse vindo sozinho."
Pois num foi qui o cachaçado, memo tando esquentado
sabia onde tava tocaiado o mardito portugár?
Foi dirétin pro bar onde o infeliz bibia,
credo em cruiz, Ave-Maria,
o qui seria agora di Jorge de Olaria?
Ispumando di raiva preguntei di Rosa
e o portugár só mexeu o bigode, vê si pode?
Dei logo um tiro pra cima só pra dexá craro a rima.
O lugá estremeu, mas o portugár nem memo si moveu.
Num jeito di ri, disse que Rosa tinha acabado di parti.
Cum sotaque irritante disse firulante o lusitano:
- Engano, engano meu rapaz, Rosa casará comigo
e já foi-se pras terras de Portugal instalar-se em meu abrigo.
- Num cridito, num cridito!
- Ora pois-pois, tome logo esta carta da rolinha que se foi.
E a carta dizia:
"Raimundo, sei qui ocê é bom moço
mai num guentava essa vida di roê osso.
Lá em Portugár é tudo mai bunito,
cridito qui ocê fique bem, junte mai uns vintém
e si casa cum outra muié,
o mundo é dos isperto, só num sabe quem num qué!"
Pensei eu cumigo:
"Ah danada, foi si isbaldá nos cacho de uva,
num vai casá é nada, vai ficá viúva!"
Num respeitei nem o dia de reis,
tratei logo di cometê um atentado ao portugueis.
Eu falo errado memo e sô pobre pra chuchú,
chega di criá cabrito, só crio agora urubu!