A MINHA CIRURGIA...
AO DOUTOR CIRURGIÃO
DIGO DE FORMA DIRETA,
NÃO TENHO DOENÇA ALGUMA,
O ÚNICO MAL QUE ME AFETA
EU VI NA TOMOGRAFIA;
É O ACÚMULO DE POESIA
NA CABEÇA DO POETA.
PRA FAZER UMA DRENAGEM
TIVERAM QUE ME OPERAR,
E DURANTE A CIRURGIA
DE TANTO O MÉDICO DRENAR;
NAQUELE LUGAR NASCIA
MAIS UM PÉ DE POESIA
NA CABEÇA DE ADEMAR.
VEJAM O QUE ME RECEITARAM
PRA EU FAZER A CIRURGIA:
QUATORZE INJEÇÕES DE VERSOS
NO LUGAR DA ANESTESIA
E PRA NÃO SAIR DO CLIMA
TREZENTAS GOTAS DE RIMA
TRÊS VEZES DURANTE O DIA.
ACONTECEU UM FENÔMENO
NO CENTRO DE CIRURGIA.
QUANDO OPERARAM O POETA
QUE A MINHA CABEÇA ABRIA;
ANTES DE QUALQUER EXAME
ACONTECEU UM DERRAME...
DE VERSOS E DE POESIA.
DISSE O DOUTOR ABISMADO
OH! MEU DEUS QUE MARAVILHA,
JÁ ESTOU CONTAMINADO
SINTO EM MIM QUE O VERSO BRILHA;
E DEPOIS DA OPERAÇÃO
O GRANDE CIRURGIÃO
SAIU FAZENDO SEXTILHA.
O NEURO CIRURGIÃO
FALOU DE FORMA DIRETA:
MEDICINA É A PROFISSÃO
MAS POESIA É MINHA META
E DISSE, JÁ NO REPENTE:
– EU MESMO DAQUI PRA FRENTE
SÓ VOU OPERAR POETA!