DE CORAÇÃO PERDIDO

Ando de coração perdido.

Sem norte ou aviso,

sinto-o bater cá dentro,

à deriva de um certo sentimento

que não acho nem me encontra...

coisa de pouca monta,

digo eu,

mas ao meu coração,

não sei o que lhe deu,

pulsa aqui, pulsa acolá,

exige-me urgência ao ar,

viaja-me sob a pele,

inquieto e inconstante,

rasga suspiros ao peito,

bate-se a torto e a direito,

como se não coubesse no corpo

onde nasceu...

Sem achar porto,

navega-me incerto,

das têmporas ao sexo,

ora longe, ora perto,

latejando ritmos nas veias

que lhe servem de caminhos

e o trazem a destinos

que me levam às ameias

da loucura!

E alucino,

endoideço,

ora lembro, ora esqueço,

ora quero, ora não quero

o que sei que nunca chega

mas ele sabe que espero...

Será por isso que dizem

que as razões do coração

nunca cabem na razão?...

Ah, este meu órgão infecto,

se ao menos eu pudesse

esmagá-lo como a insecto

quando ele me passa a jeito

nas curvas da inspiração!...