CAMPAINHA & MAIS

CAMPAINHA

A professora, após a aula, sai da escola

e vê um garotinho se esticando,

perninhas curtas, os dedos mal tocando

a campainha, pulando feito mola...

O coração da professora, como bola

expandiu-se e ela foi se apresentando:

"Deixa que eu toco, querido!" e apertando

a campainha da casa, grande tola...

Ao escutar os passos sobre o piso,

a ilusão da coitada logo acaba:

"Vamos correr agora, professora!

É que a dona dessa casa é muito braba!"

disse o menino, com um largo sorriso.

"Mas, então, não é aqui que você mora...?"

VERSOS MORTOS III

Melhor seria talvez nem te encontrasse;

não mais te visse, porque, de cada vez

que te encontro de novo, é mais um mês

em que me esqueço de ti, até que vá-se

anestesiada a lembrança; e isto dá-se

mui lentamente. Aquilo que se fez

ou, mais precisamente, se desfez,

é renovado sempre por tua face...

É preferível, portanto, nem te ver,

senão na mente. É nela que te encontras

parte integrante das redes minhas neurais.

Mas é outra que habita em meu querer:

Simples imagem com que me recontras,

a pura imagem engastada em meu jamais.

MINHOCA I

Era uma vez um esperto pescador,

que foi pescar onde era proibido,

mas que, logo a seguir, foi inquirido

pelo guarda encarregado do setor.

O policial indagou-lhe, sem ardor:

"Você não sabe que não é permitido

pescar aqui, neste açude protegido?"

"Mas não estou pescando," o infrator

foi logo declarando. "E como não?

Você não tem uma minhoca em seu anzol,

presa na vara, na ponta de sua mão?"

"Mas não, seu guarda! Veja bem a linha,"

respondeu o pescador. "Faz muito sol:

Eu só estou banhando a minhoquinha..."

MINHOCA II

O guarda ficou meio atrapalhado;

sabia muito bem que era mentira,

pois muito evento neste mundo gira,

sem que seja honestamente demonstrado...

O pescador dissera ter banhado

o pobre verme que no anzol se vira;

mas que era apenas isca, garantira

o guarda que a desculpa havia escutado...

E, de repente, lhe surgiu a ideia

e deu voz de prisão ao pescador,

que, para ludibriá-lo, se esforçou,

repetindo outra vez a sua epopeia,

porém foi preso, atentado era ao pudor,

que a minhoquinha não estava de maiô!...

VERSOS MORTOS IV

Foste bem mais para mim do que és agora

e sabes muito bem o quanto foste...

Quando me olhas, percebo te desgoste

saberes do querer que foi-se embora...

Querias ainda fosse como outrora:

no centro de meu mundo te impuseste,

em véus envolta, meu amor quiseste,

que se rasgaram todos nessa hora...

Porque, afinal, foste tu que enfraqueceste

a intensidade desse amor perfeito

e o transformaste em sonho comezinho...

Ele está ali, coitado! Não perdeste

totalmente o domínio, em mel e vinho,

do amor mirrado que ainda trago ao peito.

VERSOS MORTOS V

Quando eu a amei, mantive olhos abertos:

nem sequer por momentos eu fui cego.

Tive esperança, é certo. E jamais nego

que pensava seus desejos ter despertos...

Mas os truques da mulher são mais espertos

do que alguém, como eu, buscando apego.

Não o gozo temporário de um achego,

que esvai-se e deixa os corações desertos...

Sempre soube que por mais a desejasse

o resultado final não ganharia...

Até hoje ainda nem sei por que falei!...

Escapou-me, somente, ânsia de enlace,

porque esconder bem sei que poderia,

mas fui ingênuo e amor lhe confessei...

PORCINO [para Cláudio Albano]

Pobre velhinho! Pegou gripe suína,

com todos os sintomas importantes,

tosse e gemidos, em todos os instantes,

após uma excursão pela Argentina!

Meu pobre amigo teve triste sina:

foi levado à UTI com os delirantes,

tomou as drogas mais compactantes,

sua pele engruvinhou-se e ficou fina!

Não conseguia mais jazer de costas,

foi obrigado a se deitar de borco,

até que lhe faltou a respiração...

Depois que faleceu (sei que não gostas!),

adquiriu espírito de porco

e assim reencarnou como leitão!...

VERSOS MORTOS VI

Eu canto a borboleta de Shanghai!

Se cada ação tem sua consequência,

se cada canto tem a sua potência,

então cada palavra de ti sai

e é levada pelo mundo... E nele vai

modificando eventos com frequência,

tratando os atos com efervescência,

até que o mundo noutro desvão cai.

E existe em ti igual poder também,

que cada pensamento é vivo e tem

o poder de criar bem ou falsidade.

E como é responsável um poeta!

Concebe o mundo em seu afã de esteta

e torna o falso em plena realidade...

REQUEBRADO [para Márcia Rocha]

As mortes dos famosos geralmente

chamam mais atenção do que os milhares

que partem deste mundo diariamente,

deixando para trás os seus andares...

Foi um negro, que queria, realmente,

tornar-se branco e a tantos operares

submeteu-se, que teve finalmente

sacrificada a saúde e seus dançares...

Foi uma branca, que queria se bronzear

(para tornar-se negra, certamente...)

e câncer contraiu em resultado...

Até que ponto assim consegue errar

o ser humano, quase diariamente,

contra seu próprio corpo rebelado!...

VERSOS MORTOS VII

E já pensaste no poder que tens?

Muito mais forte até que uma oração

dirigida a qualquer deus imarcescível...

Essa energia de criares novo mundo...?

Então, controla. Em sentimentos vens

derramar-te sobre o plano de atração:

cada palavra de sabor imperecível...

Seu efeito será bem mais profundo

do que pensavas. O mundo assim criado

dependerá de teus íntimos quereres...

Controla teus desejos... Pensa bem

qual o mundo que queres, qual porém

será aquele que a ti mesmo concederes,

pois sobre os outros será também forçado.

VERSOS MORTOS VIII

É assim com os portais. Túneis cavados,

que nos conduzem do mundo corriqueiro

para outro mundo mais duro ou mais ligeiro,

bem mais rápido que os caminhos palmilhados,

passo após passo, pois são localizados

no microcosmos quântico. O elétron certeiro

vai de um ponto a outro, condoreiro,

num instantâneo saltar dos consagrados

espaços intermédios, pois que nem o espaço

e nem o tempo percorre, apenas vai

e chega ao novo ponto, inesperado;

e assim ocorre a ti, quando o cansaço

ou a inadvertência te chamam e se cai

no novo rumo que tua voz tinha invocado.

SEXO SEM NEXO

Hoje o costume contraria a biologia:

mulheres velhas namorando rapazinhos,

cujo sêmen se perde nos mesquinhos

ventres vazios em que vida não se cria.

Tal como o homossexualismo, nova via

de escape nos urbanos escaninhos,

em que filhos, ocupando nossos ninhos

não mais trazem orgulho e alegria,

mas despesas somente. Todavia,

homens maduros tiveram suas meninas,

gerando filhos nelas, sem problemas,

mesmo que os tolos assaquem zombaria,

enquanto hoje, há famílias pequeninas,

em resultado de seu egoísmo apenas.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 15/06/2011
Código do texto: T3036143
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