Poeminha sem compromisso: O gato, o peixe, o cachorro, a serpente e o papagaio.
O gato da psicóloga – cujo nome não sei, mas mora em frente –
só come almôndegas, toma leite quente
e tenta se matar,
recorrentemente,
saltando do oitavo andar.
O gato é doente
Bipolar.
O peixe lua
do aquário da psiquiatra – Doutora Isabel,
que mora ao lado –
peixinho bonito de doer,
nunca o vi comer;
isso nem consta no léxico
desse fiel
peixe anoréxico,
fino como papel.
O cachorro do vizinho de baixo,
o Doutor Garcês
do setenta e três
- se não
me engano,
analista freudiano –
é um pequinês
anão,
neurótico e completamente insano.
O militar reformado,
descontente da patente,
olhos iracundos,
porte imponente
e pouco letrado,
Major Aquilino,
antigo inquilino
do velho sobrado
que faz frente
para os fundos,
cria uma serpente.
Coitado.
E, para terminar,
Esmeraldino, O Falante,
Papagaio da Dona Violante,
mãe do zelador com quem mora no último andar,
o nono,
e fala um turbilhão,
todos me levaram a crer que cada bicho de estimação
parece adquirir características de seu dono.