Propaganda
Quero arrumar um amigo
Para escrever coisas boas sobre mim.
Alguém que me entenda e elogie,
E me apresente a poesia
Em linhas das orelhas de um livro,
Achando uma lógica, uma razão de ser
Um rumo, um fio de senso,
Nessas poesias.
É difícil, dá trabalho,
“criar justificativas, racionalizações,
citar versos felizes,
passar por cima das imperfeições”.
Vejo o amigo fatigado,
Renunciar ao intento de ser
Meu advogado,
Jogar de lado os papéis,
Como um jornal cujas palavras cruzadas,
Sempre nos vencem, no final.
Mas tente, meu amigo, tente,
Não me deixes perdido,
Embaraçado
Achando que a poesia
Não precisa de lógica,
E que pode ser
Sucessão de frases sem sentido.
Podes dizer, por exemplo,
Que hoje os poetas
Viraram publicitários,
Mestres na criação de anúncios,
De clipes, de comerciais,
E que eu,
Modestamente,
Faço propaganda da vida.