Pra Mó de Conquistar um Coração

Carta de Cumpade Sebastião

Querida Quiterinha, te escrivinho estas humirde linha, meus oio de caroço de pinha, pra mó de ansim fazer uma anunciação, que desde que te vi um dia, andando que nem uma passarinha, bem formosa e bem pequenininha, desde entonce conquistou meu coração, que hoje faz estripulia, te olhar mesmo de longe me arrupia, tuas canela fina de galinha, formosura que Deus fez na mão;

Se uncê se empolgar com esta carta,te faço uma aprumada rabada,mato um galo veio pra noi tomar cachaça, das tilápia noi faz um pirão, quero que uncê lave minhas meia, lixe minhas unha, limpe minhas orêia, com franela lustre meu gibão, e de noite olhar as estrela, que no sitio o céu alumeia, ouvir os berro das ovêia, e depois chamegar num colchão;

Adepois te dou muitos fio, gosto da casa bem cheia, os menino suado na areia, jogando peda e quebrando as tea, outros catarrento chorando pelo chão, e uncê minha amada sereia, bem gordinha parecida com uma baleia, debulhando e catando o feijão, varrendo o quintal com uma cara de romã azeda, aos berros dando sermão;

Te reservo uma vida de princesa, daquelas que vemo na televisão, tenho umas vaca que bem facim se ordenha, uns porco gordo que na lama se lambuzeia, uns cachorro que late no portão, uns pé de manga que sempre se impesteia, pé de umbu, sete peru, e dois pangaré bão, ademai ganhará duas pulseira que troquei por duas banda de melão, será do mar minha linda sereia, a laranja que escolhi na feira, a muié que escolhi pru meu coração, escrevinhei isso aqui com a certeza, que serái pra sempre meu jiló com pão.


Carta de Quiterinha

Mai que homi mai atrevido em mandar um bilhete escondido escrivinhado em papel de pão, pra mó de fazer um pedido, uma tar de anunciação, e se tu se arrupia, é da cachaça que todo dia, tu bebe sem argum perdão, e quanto a caroço de pinha é os oio que te alivia, das feze pra não dizer palavrão, e galinha é a tua tia, aquela velha vadia,zambeta que mai parece o cão;

E tai quereno empregada, muie gorda e ensebada, roçando o bucho no fogão, sou pobre mai sou asseada, ando de roupa engomada, muie de crasse não quer naum, pegue tuas meia sambada, tuas cueca toda ensebada e coloque no pirão, ofereça pra dona Esmengarda, aquela velhinha rodada, chame ela pru teu colchão;

Num quero viver amojada, te agradeço de ser apelidada, de baleia ocê é sem noção, sou uma muié prendada, mereço ser mió tratada, pra mó de poetar tem que ter vocação;

Uncê só acertou na princesa, daquelas frormosa cintura de pilão,ansim fico envregonhada, agradecendo a saudação, mai deixa de ser avarento homi, ve se gasta um tostão,não me ofereça pulseira, que trocasse por melão, essa história que tanto me aperreia, encontrei a solução, mandei o doido Zé Peia, levar pa o cumpadre Correia pra fazer a desentortação, elas tavam tão feia e sem brio, precisando de lustração, o doido voltou sem as pulseira com duas banda de melão, se ajunte com sua vaca leiteira pra ela parir uma aberração, um bruguelo metade bezerro, catarrento e muito chorão, a sereia que tu percuras, anda de quatro seu bebarrão.



Dedico ao mestre do humor, o memorável Mazzaropi
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 22/06/2010
Reeditado em 23/10/2015
Código do texto: T2334443
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