Assento... Acento!
Dizem que um serve
Pra gente desabar de cansado
Feito pato velho...
Flexionar os joelhos
E pato velho lá tem joelhos?
Quá quá quá
Qué qué qué
Quiçá, também presta-se
A equilibrar o corpo
Com as nádegas
Salutares são muitas vezes
Os efeitos do espremedouro
De bundas em algum banco qualquer
Nhéc nhéc nhéc
Chóc chóc chóc
Quero assento sim
Para pensar na morte,
Para pensar na vida
O outro, quantifica
Carrega o som da sílaba
Gosta de chamar pelo nome
As irmãs não siamesas
— Oxítona, tá na hora de almoçar
— Já vou
— Paroxítona, tá de roupa suja?
— Minha camisa sujou
— Proparoxítona, cadê?
— Lógico, avoou
Essa gente põe cada nome na prole...
Mas é que a língua dobra diferente
Em cada paragem deste reino
O piá de mãinha comprô uma caranga massa
Mess cum poco caiscais ô meu!
Quero acento sim
E também, um tradutor de sotaques, louro
Assento para todos
Nas filas dos bancos
Operar de varizes
Ainda jovem é um infortúnio
Namoradeira, trono,
Cadeira, divã
Tudo vale a pena
Na liquidação das lojas
"De Alma Não Pequena"
Um provérbio de má vontade
Já dizia: espere sentado
Pois bem, obediência já!
Ainda passo de raivoso
Por tal exigência...
Imagine querida,
Suco de maracujá?
Libera o Chandon minha flor,
Com todo respeito
Acento para todos
Nos letreiros e anúncios
Essa sina Moura Torta
Há de acabar um dia
Tia gramática é ótima
E disse: vai se disfarçar
Virar um frasco de perfume
Que é pra todo mundo usar
Mas é danada de sabida,
Essa velha tão exibida
Deu de querer agora
Entender das mutações linguísticas,
Matriculou-se no intensivão de gírias
Ela já fala "sangue bom"
Ela já fala "e aí mano"
Não é de todo ruim
E já dá pra passar de ano