Doce Troca De Recordações

Poesia do neto para vovó

Querida vovó Esmeralda,me tornei um diplomata,agradeço a dedicação,
Eu era tão traquino,sou grato às palmadas,recordo seus sermãos,
Em um tempo que eu não tinha nada,só bola de gude e pião,
Menino magro e levado, andava só engomado,tomado banho e com loção.

Recordo o vovô zangado, com as gritarias e brinquedos no chão,
Falava enfezado, esse menino é fio do cão,a senhora dava uma acalmada,em toda aquela situação,
Me colocava em seu colo,contava histórias passadas,
De tristezas não me recordo não.

Aos sábados era quermesse, pipoca,doce e charrete,
Várias horas de diversão,deixava o vovô só em casa,
Apenas para alegrar esse seu netão,passeio de roda gigante,
No tiro ao alvo ganhei um elefante,que te deixei de recordação.

Só agora te escrevo o que sinto,perdoe-me a minha ausencia,e tantos anos sem informação,
Eu sou um homem ocupado,um diplomata requisitado,te guardo no coração,
Minha vida agora é outra,ando de carro blindado,viajo por todo o mundo e janto só camarão,
Termino agora essa carta,estou com hora marcada,vou pegar um avião,
Lembrança pra empregada Isadora,manda um beijo para o vô Tião.

Poesia da vovó para o neto

Querido netinho diplomata, agradeço tua consideração,
Em mandar essa carta atrasada,após 30 anos sem comunicação,
Você rasgou minhas almofadas, manchou meu tapete de cetim da sala,arrebentou meu lustre no chão.

Aqui é a vovó Esmeralda,uma velhinha acabada,e que vive sem um tostão,
Paguei tuas contas aqui deixadas, teus cursos de ingles e alemão,e as do bar penduradas,daqueles anos de chateação,
E em relação ao vovô querido, traçava a empregada,em nossas horas de diversão,
Enquanto andávamos de charrete,e eu te levava em quermesse,era sexo selvagem no chão.

Fugiu com a Isadora,me deixou deformada, meus peitos hoje tocam no chão,
Sou uma velha encalhada, e tua roupa engomada,era goma ensebada,comprada na liquidação,
Tenha vergonha na cara, deposita dinheiro,me dê um ilimitado cartão,vou colocar botox na cara,fazer cirurgia plástica,comprar muita roupa cara, tirar minhas pregas cansadas e só vou andar de carrão.

Cheia da grana vou viver com teu tio Expedito,filho da Isadora com o teu falecido avô Tião,
Um negro bem dotado e bonito, é a única coisa que me resta,
a minha consolação,beijo netinho querido,da vovó que te ama muito,no fundo do teu coração.



O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 17/04/2010
Reeditado em 11/02/2011
Código do texto: T2203065
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