Começou...
Fico torcendo para que a tv da sala dê defeito,
embora saiba que vou ser suspeito
com motivo para praticar o ato vil.
Na verdade, seria uma isolada tentativa vã
para evitar que, a partir do dia de amanhã
alguém, além de milhões de loucos no Brasil
passasse a ter um tema dominando sua vida,
e dez ou doze fantásticos heróis pra cultuar
a qualquer hora do dia e em qualquer lugar
onde estiver essa gente reunida.
Venceu mais uma vez a baixaria
(que já está na décima edição)
e é o retrato fiel do que hoje em dia
aparece diariamente na televisão.
Quando não é numa casa, é na fazenda
(já apareceu até uma solitária),
e a partcipação do “público” dá uma renda
que cobre qualquer previsão mais milionária,
porque alem dos seus patrocinadores
que têm seu produto ligado a esta bosta,
ainda há os milhões de telefonemas
onde o “público” diz de quem não gosta
e projetando as próprias neuroses e problemas
elimina um deles - pobre infeliz otário
que deixa a luxúria do isolamento
e tem que se contentar com o sexo solitátio
praticado em algum conjugado apartamento.
É essa a televisão que volta a existir
para sua mulher, seu filho, sua mãe assistir
e achar que é o mais puro entretenimento
apresentado por um jornalista genial
cujo nome parece, com toda a certeza,
o miado de um gato com a língua presa.
Vou dormir,
e com o lençol na cabeça me cobrir
pra não correr nem o risco de ouvir.