Começou...

Fico torcendo para que a tv da sala dê defeito,

embora saiba que vou ser suspeito

com motivo para praticar o ato vil.

Na verdade, seria uma isolada tentativa vã

para evitar que, a partir do dia de amanhã

alguém, além de milhões de loucos no Brasil

passasse a ter um tema dominando sua vida,

e dez ou doze fantásticos heróis pra cultuar

a qualquer hora do dia e em qualquer lugar

onde estiver essa gente reunida.

Venceu mais uma vez a baixaria

(que já está na décima edição)

e é o retrato fiel do que hoje em dia

aparece diariamente na televisão.

Quando não é numa casa, é na fazenda

(já apareceu até uma solitária),

e a partcipação do “público” dá uma renda

que cobre qualquer previsão mais milionária,

porque alem dos seus patrocinadores

que têm seu produto ligado a esta bosta,

ainda há os milhões de telefonemas

onde o “público” diz de quem não gosta

e projetando as próprias neuroses e problemas

elimina um deles - pobre infeliz otário

que deixa a luxúria do isolamento

e tem que se contentar com o sexo solitátio

praticado em algum conjugado apartamento.

É essa a televisão que volta a existir

para sua mulher, seu filho, sua mãe assistir

e achar que é o mais puro entretenimento

apresentado por um jornalista genial

cujo nome parece, com toda a certeza,

o miado de um gato com a língua presa.

Vou dormir,

e com o lençol na cabeça me cobrir

pra não correr nem o risco de ouvir.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 18/02/2010
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