PAIXÃO DE VIOLEIRO

Essa dor que to sentino qui no peito

tá incravada no meu coração

e mi sufoca mais da conta,

pruque o medo de num sê aceito

faiz calá essa doidice de paixão.

Pois a cabocla que me afronta

descarada a passá feito rainha

sem nem prá mim os óio alevantá,

num tem dó desse homi meio besta,

que nem mais drómi e só sabe suspirá

desejando que ela seje minha.

Essa danada eu cunheci na festa

que me pagaro prá tocá viola

- eu nem queria!...

O marfadado do destino aprontô

atrapaiando tudo o que eu já vi

misturaiando as coisa na minha cachola.

Óia, seu dotô:

dos tocadô nos baile sô o mais miór

e nunca errei as corda prá cantá toada.

Pois num é que atrapaiei os dedo

e em veiz do Sor tangi um Si bemór?

- tudo por causa dessa mardiçoada!

Hoje tem baile de novo no garpão

pois hoje eu num vô tocá.

Hoje eu abro o peito p’rela

e juro que de veiz vô acabá

co’essa dor que me devora o coração.