CANÇÃO DO MARIDO DESCONFIADO
Minha cabeça tem muitas dúvidas
Grilos que atrapalham o meu pensar
E temo eu não sejam só coisas da minha cabeça
Sejam, sim, algo para eu me preocupar
Minha cabeça tem Tereza, esposa divina
E é por essa mulher que tenho imensa ternura
Profundo respeito e também medo
Deus que me livre perder essa criatura!
Por ela meu coração bate descompassado
Meu orgulho é valioso, mas por Tereza se arrasta
Minha luta é diária para mantê-la por mim apaixonada
Por Tereza, o muito é pouco e o tudo não basta
O fato é que Tereza há alguns dias em mim despertou
A desconfiança de que outro também a possua
E junto com a desconfiança veio a ira, veio a raiva
Ira que enlouquece e os pensamentos desvirtua
Desvirtua os meus sentidos a ponto de desacreditar de tudo
Desvirtua o meu amor a ponto de pensar na morte
Desvirtua a minha alegria, que dá lugar ao desespero
Desespero causado por uma Tereza, minha consorte
Sorte minha só perceber isso agora, depois de dez anos casado
Azar o meu só perceber isso agora. Tanto tempo jogado fora!
E Tereza, coitada, nem suspeita desse meu sofrimento
Vive sua vida de volúpia, sem nenhum arrependimento
Já pensei em chutar o pau da barraca
Em contar que descobri tudo
Mas só em pensar em ficar sem Tereza
Prefiro me manter mudo
Mudo, mas muito atento
Atento e cheio de cuidado
Pior do que saber que é traído
É pelo outro ser definitivamente trocado
Ser o outro não é bom não. Aliás, é péssimo!
Ser o marido é que é um ótimo negócio
Porque dorme com a mulher todo dia
E o outro passa as noites no ócio
Pensando bem, digo a você, que ri de mim
Se Tereza deixasse o amante, eu ia estranhar
Como iria eu aguentar uma cansativa rotina
Sem ter uma esposa que não vale a pena valorizar
Quem dera todo homem tivesse
Uma esposa assim de atitudes tão marcantes
Que por ela valesse a pena viver e morrer
E aguentar as piadas difamantes
Deus permita que eu morra antes dela
Ficar viúvo me deixaria em frangalhos
Tereza faz a minha vida se encher de cores
E a minha cabeça de galhos