"LAMENTAÇÕES DE UM BUJÃO DE GÁS"
De férias, sozinha em casa
Sem ninguém pra conversar
À minha imaginação dei asa
E comecei a escutar:
O fogão todo faceiro
Metido a útil e indispensável
Não vê, ao lado, seu parceiro
De mulher vestido... é lamentável.
É chato viver como eu vivo
Ao lado de tanta injustiça
Em cada casa que eu fico
O que mais vejo é preguiça.
Explico a você meu amigo
O que ouço da dona de casa
Como se pra ela fosse um castigo
Na hora de trocar, me arrasa.
Será que esse troço já secou
Nem um mês completou direito
No preço qu' está, já pensou...
Vou comprar outro... que jeito?!
Aí me coloca de trejeito
Pra sugar minha última gota
Não vê se o fogão tem defeito
Isso é mulher, ou uma louca?
Saio dalí prum caminhão
Num depósito vão me abastecer
Fico na minha solidão
Esperando o que vai acontecer.
Felizmente entro noutra casa
Aí sim, estou numa boa
Com empregada que tudo arrasa
Na ausência da patroa.
No melhor da estadia
Ouço um grito de pavor:
Patroa... acabou a alegria
Diga que o bujão secou...
É tanta confusão na cozinha
Que eu só falto explodir
E no meio daquela ladainha
Só tenho vontade de partir.
E entre tantas e tantas brigas
De patroa/empregada x marido/mulher
Como não gosto de intrigas
Vejo tudo como quem quer e não quer.
O pior de tudo que eu acho
É um marido ruim e sagaz
Prevalecendo-se de ser macho
Apelida a mulher de: bujão de gás!
Como se eu tivesse culpa
Da minha forma, assim, arredondada
Não quero servir de desculpa
Pra mulher malamanhada.
Se me acha gordo e caro
E quer cozinhar o seu feijão
Conheço um amigo muito raro
Que nas horas de aflição...
Vem dentro de um grande saco
Manchando a roupa e a mão
É preto e muito útil
É o nosso amigo carvão!...
"Autora"
Geneci Almeida
07:12:09
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25:06:09 Época em que os bujões faziam parte da ornamentação das cozinhas, por isso usava-se indumentária nos utensílios domésticos, principalmente aqui no nordeste.