Beirando os 40
Uma tarde de sexta-feira
Comum, como todas as outras.
A idade, beirando os 40.
Da vida, as amarras soltas.
Dores pelo corpo
Sentia ser diferente
Prenúncio evasivo
Pânico presente
A televisão havia avisado
A tensão não é válvula de escape
E se o corpo declina
Eis a hora do check-up
Não havia mais tempo
O medo anuncia-se
A cólera está no semblante
O desespero confundia-se
Eu que me julgava forte
Pedi aos berros ajuda
Temia a morte
-Deus me acuda.
Já havia recorrido à farmácia
Tudo sem efeito
No meu olhar despedido
Sentenciava, não tem jeito.
Mas mãe, não entrega os pontos.
Tudo acaba, menos seu filho tem fim.
Curandeirismo caseiro
Boldo, hortelã e alecrim.
A aflição tomou conta
A resposta não foi positiva
O mal-estar fulminante
O hospital, única alternativa
Desmaios, gritos e correria.
Atendimento de emergência
Só escutava vozes
Vultos e pouca consciência
Injeções, exames, enfermaria.
Aos poucos, fui me acalmando
A família inquieta
Só no pior pensando.
Liberada a aproximação dos parentes
E chega com diagnóstico o Doutor
E aos atônitos, falou:
-Fiquem tranquilos, é só côcô!