Velório - uma vela à hipocrisia !
Quanto fingimento num só velório
Num só dia tanto falatório
Num só momento tanto invento
Com o mesmo defunto tanto assunto
De repente, ficou bonzinho
"Coitadinho! Tão "direitinho"...
Pura ironia...Até ontem lá na fofoca
Era rueiro, vida torta
Tarado, desnaturado...
Outra, também, diz asneira
Completando a outra besteira
"Meu Deus, morreu tão cedo
Sempre teve tanto apego
Ao filho pequenininho
Veja lá, a tristeza,
no rosto do enjeitadinho"
Coitadinho e triste, que nada
O garotinho lá na calçada
Bate bola pra lá e pra cá
Depois dorme a sono solto
Tranqüilinho no sofá
O colega de copo aparece
Diz que na vida ninguém merece
Perder um amigo assim
Voz pastosa, incoerente
Já nem sabe bem o que diz
"Sujeitinho infeliz
bem que podia ter pago
O que devia pra mim"
Um "PUM" rompe o silêncio
Anunciando o novo dia
No velório, alguém flatulento
Quebrando a monotonia
Cheiro ruim, na aspiração
Dedos, em riste, na acusação
-Foi esse!
-Não foi!
-Foi cachorro!
-Não tem!
-Foi você!
-Nem vem!
O próprio autor da proeza
Pede por gentileza
que encerrem tal assunto
Mas, alguém, ainda cochicha
-"SERÁ QUE FOI O DEFUNTO"??????