A VACADA DE LISBOA
Venham ver nestas praças de Lisboa
tantos animalejos tresmalhados
não sei se do país ou 'strangeirados
se de saúde dúbia ou muito boa...
Venham ver, cada uma em sua cor,
por aí à solta, à mão de semear,
todos podem mexer e até montar
estando aparelhadas a rigor.
Muitas delas ser monos aparentam
outras até enganam bem os tolos,
venham ver, mas não façam nelas dolos,
pois obras-primas todas representam.
Umas vacas são claras e vistosas
outras escuras, muito pintalgadas,
outras de manchas vivas e malhadas
e muitas delas espalhafatosas.
Umas com cornos curtos lamentáveis
outras com eles mui avantajados,
os lombos são em todas alongados
destacando-se os rabos admiráveis.
Dá vontade a quem passa de as pegar
assim como os forcados nas arenas,
as pessoas s' admiram às centenas
pedindo a alguém para fotografar.
E se os adultos nisto se admiram
e as crianças só fazem algazarra
para aqueles que nunca viram farra
jamais esquecerão o que ali viram.
Ó malta, vinde aqui treinar a pega
que a gente gosta de pegar o gado...
e logo alguém valente e entroncado
se atira para a frente na refrega.
Ó puto, traz aí as bandarilhas
qu' eu entro-lhe a galope e meto ferro
e, se cair ao chão, outra lh' enterro
qu' eu nestas coisas faço maravilhas!
De vaca em vaca esta Cidade é moda
fazendo lembrar velhos Carnavais
que à falta de outros nobres ideais
constrói cirandas com cabeça à roda.
Já está na rua a Festa Popular
com alma carismática Antonina,
resta saber se a ideia peregrina
criou esta Vacada p' ra ficar ?
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE