A VACADA DE LISBOA

Venham ver nestas praças de Lisboa

tantos animalejos tresmalhados

não sei se do país ou 'strangeirados

se de saúde dúbia ou muito boa...

Venham ver, cada uma em sua cor,

por aí à solta, à mão de semear,

todos podem mexer e até montar

estando aparelhadas a rigor.

Muitas delas ser monos aparentam

outras até enganam bem os tolos,

venham ver, mas não façam nelas dolos,

pois obras-primas todas representam.

Umas vacas são claras e vistosas

outras escuras, muito pintalgadas,

outras de manchas vivas e malhadas

e muitas delas espalhafatosas.

Umas com cornos curtos lamentáveis

outras com eles mui avantajados,

os lombos são em todas alongados

destacando-se os rabos admiráveis.

Dá vontade a quem passa de as pegar

assim como os forcados nas arenas,

as pessoas s' admiram às centenas

pedindo a alguém para fotografar.

E se os adultos nisto se admiram

e as crianças só fazem algazarra

para aqueles que nunca viram farra

jamais esquecerão o que ali viram.

Ó malta, vinde aqui treinar a pega

que a gente gosta de pegar o gado...

e logo alguém valente e entroncado

se atira para a frente na refrega.

Ó puto, traz aí as bandarilhas

qu' eu entro-lhe a galope e meto ferro

e, se cair ao chão, outra lh' enterro

qu' eu nestas coisas faço maravilhas!

De vaca em vaca esta Cidade é moda

fazendo lembrar velhos Carnavais

que à falta de outros nobres ideais

constrói cirandas com cabeça à roda.

Já está na rua a Festa Popular

com alma carismática Antonina,

resta saber se a ideia peregrina

criou esta Vacada p' ra ficar ?

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 30/05/2006
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